quinta-feira, 31 de maio de 2012

trinta e um

à procura de nós mesmos
cruzamos a cidade...
perdidos em nós mesmos...
o caminho de pétalas vermelhas
com gosto de abacaxi,
de figo maduro,
de beijos
e abraços furiosos...
como a penumbra da tarde,
como o gemido do vento,
a soprar no ouvido
dos corpos largados,
assustados...
e de nós mesmos,
lá de dentro,
fundo,
fundo,
cúmplices eternos
da força que emerge do sonho,
da saudade
e do encantamento.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

paixão, cena 2, tomada 17


a paixão que  consome
já teve nome,
dias de pura fome.
bateu ponto
no pronto socorro -
fadas e feridas -
escritas na areia,
na casca das árvores,
dormindo na cadeia,
nos lenços de papel.
cabelos na lua cheia,
abelhas tecendo mel.

a paixão que nos consome
não é fruto que se come
em plena flor -
é suco agridoce -
antes tarde fosse,
se quando acorda
anoitece.

a paixão que nos consome
é felicidade
bem debaixo do nosso nariz
- Casablanca
Último tango em Paris -
lágrimas tantas...
chuva...
na paisagem de giz.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

ausência

Hei de edificar a vasta vida
que mesmo agora é teu espelho:
toda manhã hei de reconstruí-la.
Desde que te afastaste,
tantos lugares se tornaram inúteis
e sem sentido, como
luzes no dia.
Tardes que foram nicho de tua imagem,
músicas em que sempre me esperavas,
palavras daquele tempo,
eu terei de quebrá-las com minhas mãos.
Em que profundezas esconderei minha alma
para que não enxergue tua ausência
que como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e impiedosa?
Tua ausência me cerca
como a corda o pescoço.
O mar em que naufraga.

                                    (Jorge Luis Borges, 1923)

sábado, 19 de maio de 2012

carta de navegação

o relógio pára no exato momento da partida. uma revoada de pétalas e pássaros vermelhos assusta o dia que se deita em silêncio. o relógio agora registra, duas vezes por dia, como um veredito, uma incógnita, a certeza, a verdade, a dor suprema que encanta os homens e enlouquece andarilhos sem bagagem. sob os ponteiros paralisados o sangue teima em pulsar até o próximo corte, o derradeiro, o inevitável. esvazio bolsos e a alma atrás de respostas. mas o que queima no peito não tem nome, nem endereço. o que queima no peito atende por todo o dicionário de sentidos, inéditos, indecifráveis. se desperto as madrugadas com teu gosto na boca, o teu cheiro, não é desespero, é alegria. uma alegria de lámina que rasga e  percorre o peito, como o primeiro toque, o primeiro cheiro dos teus flancos, da tua entrega plena , em mil imagens, em mil  afagos  e gemidos.  e  invado o jardim de mãos nuas, revolvo a terra, lágrimas antes de sol. arco-íris talvez. e acordo pro vento, esticando velas, respirando o dia e  a saudade. a saudade no horizonte dos teus olhos.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

pesco na memória
a cantilena
das meninas
no rio...
batendo roupa nas pedras,
soprando  lenha,
passatempo de frestas,
fumaça
e vestidos de chita.
as meninas sonhando
no barulho da espuma.
castelos e fortalezas.
beijos e abraços demorados.
forasteiros.
alho e cebola
frigindo...
sinfonia
esperando a noite

domingo, 6 de maio de 2012

sacrifício

acorrento tempestades,
despeço-me da saudade
que estremece na nadrugada
silenciosa...
em círculos,
catalogo vinhos e flores
em Paris,
na paisagem da parede,
nos quatro cantos do mundo...
das chagas em minhas mãos,
em meu peito grisalho,
nas têmporas,
no esquecimento...
entrego-me ao sonho
dos teus sinais particulares,
nas roupas jogadas,
na tua boca marcada
em copos,
em minha boca,
no abraço furioso
das tardes de outono.

costelinha assada com batatas ao iogurte com damascos

ingredientes:
1,5 kg de costelinha suína com bastante carne
400 ml de vinho branco
4 colheres (sopa) de sal
400 ml de água
pimenta  do reino
ervas secas (pode ser herbs de provence ou
cheiro verde a vontade)
3 colheres de melado de cana ou rapadura moída
ou mel
molho:
5 damascos secos
2 colheres (sopa) vinho do porto
100 ml de iogurte natural
batatas:
3 batatas médias cozidas
50 g de manteiga com sal
salsa desidratada
alecrim
preparo:
faça uma marinada com o vinho, o melado, a água, o sal
e os temperos e deixe a peça imersa por 12 hs na geladeira
com a parte dos ossos virada pra cima. no dia seguinte
coloque numa assadeira juntamente com a marinada e leve
ao forno por uma hora coberta com papel alumínio. corte as batatas
cozidas em pedaços pequenos e passe na manteiga derretida junto
com as ervas desidratadas. tire o papel alumínio da forma e coloque
as batatas e deixe mais meia hora no forno para dourar. se preferir
pode pincelar a peça com mel para que fique mais dourada.
enquanto isso faça o molho cortando os damascos em lascas bem finas;
coloque numa panela juntamente com o vinho durante 5 minutos e depois
de frio incorpore o iogurte. sirva com arroz branco e um cabernet sauvignon
de sua preferência. em dias quentes, um branco chardonnay é boa pedida!

sábado, 5 de maio de 2012

Lia e Raquel

por sete anos cuidarei do rebanho.
por sete anos serei servo do silêncio.
esculpirei  o destino na pedra,
no pão,
no vinho sob meus pés.
por sete anos esperarei pelo sorriso
que abre todas as portas.