quarta-feira, 24 de outubro de 2012

tudo

, deixo minhas dores no vão das portas, na cabeceira silenciosa, nos bolsos vazios. Teus cabelos presos, teu ventre trêmulo, teus dentes acesos, tudo em frascos pequenos sem tampa. Tudo para não esquecer da dor e do perfume, esse hálito molhado que faz teimar a vida, e suas tantas mortes, nos canteiros, nos jardins secretos da memória.

sábado, 20 de outubro de 2012

self

, já não se importava com o rótulo, o ano, a uva. Prometeu e cumpriu: uma só taça. Queria lucidez para revirar o porão, abrir caixas, revirar todos os livros. Repetia sempre que todas as respostas estavam nos livros. Queria respostas, todos queriam. Não estava embriagado mas começou a rir sem parar com a descoberta. Passara a vida inteira atrás de respostas certas, mas só agora se deu conta de que eram as perguntas  que estavam erradas.

sábado, 13 de outubro de 2012

, teve que por os óculos para cortar as unhas. diferentes, caneladas, como as de sua mãe. notou no espelho que as bolsas sob os olhos também eram iguais ao de sua mãe  e os vincos no rosto, os sulcos arados pelo tempo, era mais um retrato de seu pai. saiu pelo corredor atrás de salsa e alecrim, na pequena horta num canto do terraço. a pitangueira estéril contemplava sua agonia e seu êxtase ao sentir o perfume das ervas , maceradas sob as unhas caneladas. chovia. silenciosamente chovia. foi assim, sob a chuva, que descobriu que as pessoas sofrem,gastam uma energia danada no muito que se tem a ganhar, e esquecem do pouco que tem a perder. do imenso valor do pouco que se tem a perder. e foi assim, com os óculos embaçados e a alma encharcada, que ele ganhou o dia.