quarta-feira, 18 de junho de 2014

Orides por ela mesma

“Reclamam, porque eu não falo de amor. Mas então não leram Homero... Eu quis chegar no miolo das coisas. Já fiz duas leituras para auditório de jovens e eles gostaram muito. Isso me deixa reconfortada. Mas, infelizmente, nossos especialistas ainda têm uma visão muito olímpica da poesia. (...) Mas é a velha história: é melhor que falem mal, mas falem de mim. Eu preciso de dinheiro para viver. Minha vida é um retrato da vida dos aposentados do Brasil. E a vida dos poetas no País. Eu queria ser mais enxuta, queria escrever poemas exemplares à moda de Brecht. Sei que não agrada, porque a moda hoje é o barroquismo. A moda é escrever como o Alexei Bueno. A moda é ser difícil. É um fenômeno sociológico e não adianta discutir com os fatos da sociologia. Não quero ir contra ninguém, só quero escrever meus poemas. (...) Eu sou pequena, pobre mulher que escreve uma poesia boa, mas, coitada, não é do meio. Não tenho família, não tenho bens, não freqüento os lugares chiques. É como se eu estivesse invadindo o Olimpo.”
 (Orides Fontela, in "Culture-se")

terça-feira, 17 de junho de 2014



quando estremeces
sou eu
quem terno tece
o temporal

sou seu sol
a gotejar
em tua fresta,
testemunha,
teu dorso
de arco e lira
em qualquer tempo,
tempestade

quando estremeces,
nas minhas mãos,
é só uma colheita
correndo sob meus pés.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

do-jô

ouço a leveza do golpe

osoto-gari

olhos montados,
 sangue minando lento,
como deve ser.
estudo possibilidades,
pontos de apoio.
uma alavanca
e eu mudo o mundo de lugar.
um olho na boca
e outro dentro do  olho.
no rosto pergaminho,
hálito doce de ventania.

poderia ser uma batalha,
um duelo,
uma morte passional.
mas é só o início de tudo.
a raiz,
a raiz de um dente.