segunda-feira, 4 de agosto de 2014

ainda sobre dragões




Não sei ainda se tenho dragões  em meu peito. Uso o plural porque é difícil precisar se são vários ou se é apenas um com múltipla personalidade. Só sei que a convivência e o respeito são insuficientes para compreendê-lo ou compreendê-los. Mais difícil ainda é acreditar que está ou estão comigo. Ou se viajo demais e a sua existência por mais tênue e louca que possa parecer é álibi conveniente para meus atos e faltas. Para as intempestivas palavras em brasa rompendo das ventas em momentos de fúria e pouco discernimento. Em noites em claro. Em palpitações crescentes. Uma paralisia mental que extenua. Tenho um dragão sim em meu peito, numa certeza cambaleante. E essa azia constante, esse fogo que sobe pela garganta, não há gastroenterologista que diagnostique. O calor que me acorda no meio da noite não sai nos laudos de endoscopia. O fogo está onde sempre esteve. Só agora entendo das escaramuças da  guerra  em curso. Silenciosa e sem perspectiva de trégua. Dragões silenciosos travam batalhas, conspirando e corrompendo corações. Com outros dragões. Que nos visitam. Que nos distanciam. Todos os dias. Todas as noites. Colocando tempero e calor a vidas insossas, no fastio das madrugadas sem fim. Sem a conivência de estrelas e inventários. Dragão, Paixão,  sabe-se lá o quê. O que empurra nossas vidas não está nos dicionários. A única furiosa certeza é que tem asas e fogo.