quinta-feira, 26 de abril de 2012

Poema da página 112 - E. E. Cumming

de olhos fechados,
encontro o mar:
cegueira sem palavras,
cartas náuticas
na fúria do silêncio.
há musgo sob meus dedos,
nas frestas
sob meus braços,
abraços esculpidos
em sal
e saudade.

quando a cegueira
bate traiçoeira,
teu cheiro me guia
no precipício,
na neblina que se funde
ao mar,
aos teus fundos olhos,
aos mortos sem perdão,
sem promessas,
sem escuridão.
meu edifício treme,
e a garganta seca
de náufrago
é só uma promessa de beijo,
de abraço, de escravidão.
e acorrentado,  quebro pedras,
planto os dias, esqueço a fome.
a fome que move todas as coisas.
a fome do teu nome
em meus lábios.


sexta-feira, 6 de abril de 2012

caminhante

bebo do cristalino desse espelho
e seu reflexo é toda minha intuição
em feixes de trapos e reminiscências.
escolhi um desvio na floresta,
mas não me perdi como pensam,
só demorei para chegar ao destino.
só demorei para achar o que nunca se escondeu.
que quando a gente sente não é fuga,
é instante. é pedra. é fogo.
e é perpétuo.
só não são perpétuos os desvios que a gente não segue.
porque quem escolhe vive.
quem escolhe é livre.
e ao contrário, morre quem se alimenta
da história do outro caminho
que nunca mais vamos trilhar.

subterrânea

da Liberdade
ao Paraíso
são só três estações.