sábado, 27 de novembro de 2010

angústia

tenho cá comigo
uma lágrima guardada
para noites de agonia...

tão grande e densa
inunda fotografias,
faz boiar toda a mobília
do meu desespero...

reviro gavetas,
levanto tapetes,
atrás de uma bússola
de um biscoito da sorte.

trago cá comigo
uma lágrima guardada
para noites de desespero...

flagelado
esperando sol
que seque
a alma encharcada
vertida em sangue
iluminando a madrugada.

sábado, 13 de novembro de 2010

vinho chileno

vales chilenos,
encostas geladas
agora no meu sangue,
no meu corpo hipertenso.
redundância...
sinais, sintomas,
esquecimento.

prometi a mim mesmo,
e a todos,
não falar de luxúria.
coisas tipo,
seu corpo quente,
línguas maliciosas,
fluídos e carícias.

prometi a mim mesmo
não me entregar ao destino
de precipícios,
de indagações.

antes da colheita
espreito teu dorso nu
paisagem aterradora
de prazer e dor.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

erótica

procuro teus cabelos,
teu colo,
tuas espáduas
de orvalho e alecrim,
no escuro em que me perdi,
areia movediça
dos teus quadris em fúria.

me maltratas,
úmida e quente,
pagã coreografia
que antecede a tempestade.

faíscas e raios
percorrem a espinha
de andarilho incauto.

virado do avesso
colo no teu ouvido
lamentações desatinadas.
peço-te em lágrimas um abraço.
feito um prato de comida,
uma água de beber.

e colas teu corpo ao meu,
obsequiosa,
com o largo e satisfeito sorriso
da trégua.
da inefável agonia da colheita.
da inefável agonia de ser mulher.
ao meu lado.